A história dos games não é só deles!

Milena Demetrio
5 min readJul 10, 2021

Meu primeiro videogame foi um PolyStation. Lembro que compramos antes do meu irmão nascer, então provavelmente o ano era 2001. Na época o salário mínimo era em torno de R$ 180,00 e o Brasil vivia o começo da recuperação econômica. O PolyStation — clone do Super Nintendo com cara de PlayStation — custava R$ 99,90 e eu lembro até hoje a alegria que senti quando meu pai comprou, naquelas lojinhas de R$ 1,99 que vendiam todo tipo de quinquilharia de importação.

A Geração Z pode até achar cringe, mas a eu de 6 anos vibrava de alegria quando assoprava uma fita travada e ela milagrosamente voltava a funcionar. O PolyStation também tinha “mais de 100” jogos “embutidos”, e comprávamos fitas novas todo mês. Só quem viveu sabe o ódio que dava quando aquele cachorrinho dava risada da sua cara, depois de você não acertar nenhum tiro nos patos.

Algum tempo depois meu pai fez uma negociação e conseguiu comprar um PlayStation 1 usado. Foi uma revolução. Eu me sentia tão rica que nem parava para pensar que tinha apenas dois jogos. O PS1 era uma caixa cinza, com um botão de ligar, abrir a tampa e reiniciar. Era meu sonho se tornando realidade. Na época os consoles não tinham memória interna, então se você quisesse salvar seu game precisaria de um memory card, o precursor do pen drive que contava com um espaço interno de mais ou menos 1 mega. O luxo da classe média baixa brasileira.

Os controles do PS1 ainda não tinham o analógico. Lembro que conforme os consoles foram se popularizando os jogos também se tornaram mais comuns, jogos pirata, claro. A minha diversão era ir nas famigeradas lojinhas de R$ 1,99 comprar jogos pirata. De cara meus jogos favoritos foram os de corrida, Driver 2, Need For Speed: Porsche 2000 e Gran Turismo foram tão usados que o CD chegou a estragar! Toda vez que você colocava o CD no console era um misto de emoções: será que o jogo vai rodar? Será que vai travar? Se sair da tela inicial do PS, tudo certo!

Claro que os jogos pirata tinham defeitos e ouvíamos falar que sua utilização estragava o console, mas era o que tínhamos disponível. Meu pai também era um entusiasta dos jogos, toda noite ele jogava o Medalha de Honra, game de tiro que se passava na Segunda Guerra Mundial. Ele jogava enquanto eu procurava as palavras em inglês no dicionário, o mundo dos games foi meu primeiro contato com a língua estrangeira.

Como o bom negociante que era, meu pai logo conseguiu vender o PS1 caixona para comprar o modelo mais arrojado e moderno do console, junto com dois controles que tinham os botões analógico e, pasmem, vibravam! A nossa nova aquisição veio com uma bolsinha de CD’s recheada de novos jogos, de corrida, de tiro e de aventura. Juntando estes com os games que comprávamos nós éramos milionários!

Este console me acompanhou por bons anos. Na bolsinha de CD’s descobri jogos icônicos como Grand Theft Auto, os outros Need For Speed e Gran Turismo, os quais eu teria zerado se meu querido irmão não tivesse deletado o jogo salvo do memory card (valeu Felipe!). Eu também joguei muito “Stuart Little 2”, primeira história que eu e meu pai zeramos, e o superestimado “Crash” que até hoje eu não entendo a história. Cheguei a me arriscar em jogos como Resident Evil e o próprio Medalha de Honra, mas o combate me deixava muito ansiosa (e ainda deixa), então fiquei com os jogos de aventura e corrida.

Aos 12 anos meu pai inovou mais uma vez: comprou um PlayStation 2. O PS2 era uma nave! Muito mais moderno do que as outras edições do console, tanto no formato quanto na qualidade dos jogos. No PS2 eu conheci jogo como “Donald Duck: Quack Attack”, “Driver3”, “GTA San Andreas” e “Vice City”. Como o acesso a informações sobre jogos se dava principalmente por revistas ou em sites (que eu não acessava pois não tinha internet), eu ficava encantada toda vez que encontrada um novo game de uma série, pois não sabia como o mundo dos games funcionava nem como eles eram desenvolvidos.

Fonte: PS2 vale a pena em 2021? Análise do clássico console da Sony — DeUmZoom

Nosso PS2, como todos os consoles anteriores, foi comprado usado e aguentou muitos anos, foi usado por mim, meu pai e pelo meu irmão, que na época já entendia quando deixávamos o controle dele desconectado (rsrs desgulpa). Usávamos o console para jogar, assistir DVD’s e ouvir música. Era o mais próximo que tínhamos de um computador em casa. O único problema do PS2 para nós, uma família classe média baixa, era que o console detectava alguns jogos pirata e não rodava, ou seja, acabou a alegria de jogar milhares de jogos pagando pouco.

Os videogames, assim como todos os eletrônicos, foram ficando mais avançados e muito mais caros. O PS2 foi meu último console da Sony, só tive a oportunidade de jogar em um PS4 muitos anos depois, com quase 20 anos, e o PS5 eu nunca nem vi! Hoje sou da família Xbox, pois meu amado e querido noivo me deu um de presente (te amo!). Apesar disso, a Sony e o PlayStation sempre terão um lugar no meu coração, pois marcaram minha infância e adolescência, ainda lembro dos calos nos dedos depois de jogar várias horas seguidas de corridas e da minha mãe gritando pra eu “ir tomar um sol”. Saudades!

Por isso acredito que a história dos games e consoles não é só deles, é uma história compartilhada com milhares de pessoas que cresceram jogando ou desejando jogar. Os games são uma invenção maravilhosa, capazes de nos levar a lugares que nunca imaginamos e viver vidas loucas na pele dos personagens que amamos. Independente de sua idade, gênero ou nacionalidade os games podem nos unir e acompanhar a evolução deles me faz uma Millennial muito feliz!

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Milena Demetrio

Brasil. Ciências Econômicas, Unicentro, PR. Mestre e Doutoranda PPGDR, UTFPR. Culture, Development, Feminism, Agriculture and Healthy Eating.