“The Gift”da Netflix é a nova “Dark”?

Milena Demetrio
4 min readJul 3, 2021

Se você assistiu Dark, a série alemã da Netflix que fala sobre os mistérios do tempo e e espaça, você vai simplesmente amar “The Gift”, em português: “O Mistério do Templo”.

A série turca é baseada no livro da escritora Şengül Boybaş (sengulboybas.com) “O Despertar do Mundo” (Dünyanın Uyanışı em turco) e é ambientada em Istanbul, Göbekli Tepe, Adıyaman, no Monte Nemrut, na Capadocia, em Mardin, e Bursa, todas regiões históricas e carregadas de tradições milenares da Turquia.

A série é gravada em turco o que achei um ponto muito positivo para valorização da cultura local, pois geralmente as séries são gravadas em inglês. Escrita por Jason George e Nuran Evren Şit, a trama tem oito episódios de em média 45 min, divididos em três temporadas.

Cartaz de divulgação, fonte: مسلسل عطايا Atiye | وكالة قاسيون للأنباء (qasioun-news.com)

Em turco a série se chama “Atiye”, nome da personagem principal, que vive a jornada de uma artista em busca do autoconhecimento. Atiye, interpretada por Beren Saat, desenha um símbolo em todas as suas pinturas, desde criança, quando de repente descobre que este mesmo símbolo está em ruínas de um templo milenar.

No início eu achei que o templo fazia parte da fantasia da história, então, quando descobri que era real, levei um susto. A minha surpresa da existência deste templo foi porquê a sociedade humana começou a sedentarização e a domesticação de plantas e animais a 10 mil anos atrás e, antes disso, não existiam construções como esta:

Gobekli Tepe: Reescrevendo todo entendimento da história humana, fonte: Gobekli Tepe is Rewriting Our Entire Understanding of Human History (thriveglobal.com)

O santuário construído foi a 11.500 anos, contrariando o conhecimento estabelecido de que a humanidade só dominou técnicas de construção depois da Idade da Pedra. O templo, que foi construído muito antes das pirâmides do Egito, é formado monumentos megalíticos organizados em círculos com pilares de cerca de 5,5 metros de altura adornados no topo, entalhados com esculturas de animais selvagens.

Pintura de Atiye

Só este fato foi o bastante para prender minha atenção na trama que se desenrolava, me fazendo avançar pelos episódios que corriam. Mas além disso a série é um encontro de culturas. Sempre admirei e quis conhecer mais sobre a cultura de outros povos e acho que as artes nos aproximam. Na minha opinião “Atiye” é uma série misteriosa, de estética atraente, fotografia bonita e figurino fashion.

Beren Saat interpreta a artista “Atiye”

Os pontos negativos podem ser relacionados ao nosso costume de consumir personagens e roteiros estadunidenses. O ritmo e apresentação dos personagens pode gerar estranhamento, são mais lentos e carregam muitos aspectos da cultura local. Além disso, nosso ouvido fica buscando correspondência entre as palavras, já que o turco não é muito comum de se ouvir, apesar do Brasil ter um grande contingente de imigrantes turcos.

De qualquer forma a trama é envolvente. Realidades paralelas, vidas passadas e viagem interdimensional são alguns dos temas que fazem a jornada pegar fogo e trazem o melhor e pior de cada personagem. Assim como em Dark é preciso que você busque lembrar ou anotar o nome dos personagens, pois a trama gira em torno de três famílias.

Mehmet Günsür interpreta o arqueólogo “Ehran”

A história deixa uma pergunta no ar: existe mesmo um livre arbítrio ou estamos todas e todos emaranhados nas tramas do destino que sempre se repete? Mesmo na terceira temporada ainda ficam muitos questionamentos, e a cada episódio é possível se aproximar mais das nuances dos personagens em diferentes situações. Além disso existe a mística que envolve a deusa da fertilidade e sua relação com os ciclos da terra, desenvolvida pouco a pouco entre os episódios. Uma ótima série para quem gosta de mistério e fantasia!

O Segredo do Templo | Site Oficial Netflix

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Milena Demetrio

Brasil. Ciências Econômicas, Unicentro, PR. Mestre e Doutoranda PPGDR, UTFPR. Culture, Development, Feminism, Agriculture and Healthy Eating.